A história do Raimundos começa como uma brincadeira entre amigos. Vizinhos em um bairro nobre de Brasília, Rodolfo e Digão se conheceram e começaram a tocar juntos, isso em 1987. Por muito tempo tocaram covers de suas bandas favoritas, entre elas Dead Kennedys, Suicidal Tendencies, e, é claro, Ramones. E nas brincadeiras, Rodolfo começou a fazer versões punk para músicas do sanfoneiro Zenilton, o único que ele gostava por causa da sacanagem nas letras. E foi dessa brincadeira que surgiu o Raimundos.
Para completar a banda chamaram o Canisso e mais o amigo Titi, e com essa formação - Rodolfo na guitarra, Digão na bateria, Canisso no baixo e Titi nos vocais - fizeram o primeiro show na casa do amigo Gabriel (atualmente no Autoramas), durante o reveillon de 1988. Mas a formação durou somente um show, e a banda seguiu como um trio, com o Rodolfo assumindo os vocais.
Seguindo com apresentações aonde faziam covers, a banda durou até 1990, quando se separaram após uma tentativa fracassada de partir para um estilo diferente - fazer heavy metal, como estava na moda naquela época. E em 1992 surge um convite de um desavisado produtor, e a banda resolve retornar, mas na época Digão já tinha abandonado a bateria por causa de problemas de audição, partindo para a guitarra. Sem um baterista, apelaram para uma bateria eletrônica e o resultado foi desastroso. E na busca de um quarto componente, Fred se encaixou perfeitamente além de se revelar uma pessoa bem disposta a levar à banda a outros rumos.
Em 1993 já gravavam a primeira demo, que foi um sucesso no público underground e garantiu à banda inclusive participações em programas na MTV e festivais como o Junta Tribo (em Campinas, quando se tornaram nacionalmente conhecidos) e o M2000 Summer Concerts em Santos, quando ainda uma banda independente, tiveram a chance de tocar para 80 mil pessoas - e saíram como revelação do festival, inclusive sendo capa de alguns jornais no dia seguinte. Já em 1994 assinavam contrato com o recém-lançado selo Banguela, do produtor Carlos Miranda junto com o Titãs. Lançaram pelo selo o histórico primeiro álbum, "Raimundos", que trazia a mistura característica da banda: forró com hardcore, além de outros ritmos.
Fizeram um sucesso considerável e ganharam as rádios com a inusitada "Selim", música que sequer foi escolhida para ser de trabalho, mas que por causa do público foi parar nos primeiros lugares das paradas das rádios brasileiras. Receberam disco de ouro - o que, apesar de todo o otimismo em cima do trabalho da banda, foi uma grande surpresa por ser um disco de rock pesado e conter muitos palavrões - e assinaram contrato com a gravadora WEA, que fazia a distribuição dos álbuns lançados pelo selo Banguela.
Em 1995 lançam o segundo álbum, "Lavô Tá Novo", e passam facilmente pela "prova do segundo álbum", onde muitos grupos naufragam. Fazem um sucesso tremendo e novamente ganham as rádios com "Eu Quero Ver o Oco" - considerado por muitos como o hino do rock nacional dos anos 90 - "O Pão da Minha Prima" e "I Saw You Saying". A turnê se estende tamanho o sucesso (inclusive com shows no exterior), e para cobrir um espaço sem lançar nada e, aproveitando a época de natal, resolvem lançar em 1996 um kit para os fãs. Batizado de "Cesta Básica", o Box-Set contendo CD (que recebeu o mesmo nome e é vendido separadamente), fita de vídeo (com clipes, entrevistas contando a carreira da banda e trechos de shows) e revista em quadrinhos (assinada pelo cartunista Angeli) esgotou em poucos meses e atualmente é uma raridade cobiçada por muitos fãs.
Em 1997 a banda vai para os Estados Unidos gravar o quarto álbum. E a distância dos amigos aqui do Brasil, a cena roqueira de Los Angeles e a vontade de acabar com o estigma de banda engraçada culminam no álbum mais pesado da banda, o "Lapadas do Povo". Na verdade a característica principal do álbum nem se prende ao peso, pois há músicas mais acessíveis como "Pequena Raimunda" e "Bonita", mas o que diferencia este álbum dos outros foi um distanciamento a uma das características mais marcantes da banda, que era a sacanagem e a alegria.
Mas o fato mais triste da carreira da banda até então marcou o início da turnê do "Lapadas do Povo", quando uma fatalidade causou a morte de 8 fãs após um show em Santos. O fato abalou profundamente o grupo, que cancelou as datas já marcadas e só retornariam aos palcos dois meses depois. A turnê foi menor que a dos anos anteriores e a banda precisava de um álbum mais pra cima, para melhorar o clima que rondava a banda.
E veio então o quinto álbum, "Só no Forevis", lançado em 1999. Desde as gravações, passando pelas participações especiais até o resultado final, tudo se desenrolou com bastante entusiasmo e o resultado não poderia agradar mais à banda. A primeira música a ser composta, "A Mais Pedida", já trazia em sua letra uma certa acidez ao criticar a censura nos shows da banda e o espaço nas rádios tomado por outros ritmos, como o pagode. A própria capa do disco baseou-se nisso também, uma brincadeira com pagodeiros e com a proliferação desenfreada de grupos desse ritmo. E na hora de escolher a primeira música de trabalho, a própria banda optou por uma que representasse bem um ritmo que eles já praticavam há muito tempo - batizado de hardcore melódico - presente em músicas como "Bestinha", "Bonita", e então ficaram como "Mulher de Fases" como primeira música. Mas na véspera do lançamento do álbum, mais um susto: a empresa onde as 100 mil cópias do álbum estavam guardadas é assaltada e levam tudo. Um baque para a ansiedade da banda, que teve que aguardar mais uma semana para que uma nova tiragem fosse feita.
A faixa "Mulher de Fases" estourou nas rádios e na MTV (onde a banda ganhou o principal prêmio do ano, a "Escolha da Audiência" no VMB 1999), levando a banda a vários programas de TV além de conquistarem o disco de platina, superando 500 mil cópias vendidas. É claro que as outras músicas de trabalho do álbum - na seqüência: "A Mais Pedida", "Me Lambe", "Pompem" e "Aquela" - contribuíram para que o "Só no Forevis" se firmasse como o maior sucesso da banda até então. A turnê avassaladora com a maioria dos shows lotados confirmou o que banda e fãs já sabiam: estava na hora do disco ao vivo. Mas antes, a banda recebeu dois convites de "responsa".
O primeiro foi uma abertura encomendada para um novo programa que a MTV estaria lançando, batizado de "20 e Poucos Anos" e que a música-tema seria uma famosa canção de mesmo nome, de um cantor com estilo um tanto diferente da banda - Fábio Jr. De início a banda achou um tanto estranho, mas após ouvir a música e transformá-la radicalmente em um hardcore bem ao seu estilo, o resultado foi excepcional.
O segundo convite e mais inusitado ainda foi a escolha da banda, entre uma pesquisa feita pela gravadora Roadrunner, para representar o Brasil na versão nacional da trilha sonora do filme "Missão Impossível 2". A banda deveria compor e gravar uma música em poucos dias, que passaria por uma aprovação do produtor do filme - ninguém menos que o próprio Tom Cruise. Aproveitaram o tema característico do seriado mandaram ver uma porrada na orelha, a faixa "Give My Bullet Back", cantada em inglês e provavelmente uma das músicas mais pesadas do grupo, só encontrada na trilha sonora do filme (edição nacional). Deixaram muita banda gringa da trilha sonora no chinelo.
O projeto do primeiro disco ao vivo da banda coincidiu com um novo projeto que a MTV estava planejando para o ano de 2000, o MTV Ao Vivo. Semelhante ao "Acústico MTV", o novo projeto consistiria em gravações de shows de bandas consagradas que viriam a se transformar em programa especial, CD e DVD. E a primeira banda escolhida foi então o Raimundos. A banda se encarregou de gravar o material em várias apresentações (2 shows em São Paulo, 1 em Goiânia, 1 em Sorocaba e mais 2 em Curitiba), pois eles não queriam se limitar a uma única apresentação para poderem chegar ao melhor resultado possível sem precisar recorrer a recursos posteriores em estúdios, como boa parte das bandas faz por aí. No show em Curitiba, que por sinal foi o que teve o resultado final mais satisfatório e por isso consiste na base do CD ao vivo, a MTV esteve presente fazendo as filmagens que resultaram no programa "MTV Ao Vivo"de estréia. Já o CD recebeu um tratamento especial, pois o repertório afiado da banda e as exigências dos fãs definiram que o álbum não poderia ter 15 ou 20 músicas como o usual, mas sim 40 músicas! A saída foi fazer um álbum duplo, mas que também fosse vendido em edição separada, para que todos tivessem acesso.
Em junho de 2001 após uma longa conversa entre os integrantes, o Raimundos anuncia seu fim. O principal motivo era a insatisfação de Rodolfo . Dois meses depois, Fred, Canisso e Digão resolvem retornar com a banda. Lançaram o disco Éramos 4, que conta com canções de um concerto da banda com o ex-baterista do Ramones, Marky Ramone onde tocaram sucessos da banda americana, além de duas regravações inusitadas ("Nana-Neném" e "Desculpe, Mas Eu Vou Chorar", de Leandro e Leonardo) e a regravação de "Sanidade", música que estava presente na primeira fita demo e que já contava com Digão nos vocais, Marquim entra na banda assumindo a guitarra para completar o time.
Em 2002, a banda fez o lançamento do primeiro álbum totalmente inédito, Kavookavala. O álbum conta com doze canções inéditas como "Fique-Fique" e "Joey" que viraram clipes e várias participações, entre elas a do cantor do Sepultura Derrick Green e Mr. Catra. Pouco tempo após este lançamento, alegando desgaste natural, o baixista Canisso abandonou o grupo, sendo substituído pelo até então cantor do Rumbora, Alf.
Em 2005, a banda lança um EP Virtual, entitutalo Pt qQ cOizAh (Ponto Qualquer Coisa). Não houve nenhuma gravadora por trás da iniciativa, no entanto a atitude não teve nenhuma intenção de dispensar algum selo fonográfico. O objetivo foi apenas divulgar o trabalho por conta própria. O EP conta com 5 faixas entre elas "Pemba talk", "Macaxeira" e "Sol e Lua" que acabou virando clipe.
Um dos nomes mais importantes do rock brasileiro, a banda Raimundos tem demonstrado que continua surpreendendo em cada apresentação. Seja pela versatilidade de Digão como front-man e dos integrantes que acumulam experiência, ou mesmo pela força dos hits que a banda criou em quase 20 anos de história.
Ao vivo, o que se vê é uma imensa troca de energia. Banda e público cumprem a risca os seus papéis: em cima do palco, a energia mesclada com as letras rápidas, repletas de sátiras e ironias. Em frente ao palco, o público que participa imensamente do show e entoam todos os grandes sucessos da banda.
O diferencial do Raimundos é que a banda não se resume à imagem do vocalista como muitos pensam. E a prova disso está em que já assistiu a um show da banda. Digão, sempre foi uma figura emblemática na banda e que assumiu ainda mais carisma e identidade quando ocupou também o cargo de vocalista.
A atual formação mostra claramente a evolução musical de cada integrante. Marquim, guitarrista da banda, trouxe novos elementos ao processo criativo e execução das músicas ao vivo.
Canisso de volta é uma das novidades. Após cinco anos afastado da banda e tocando outros projetos em Brasília, um dia desses recebeu o convite do Digão. Para ele, o convite foi recebido da melhor maneira possível, e hoje é um desafio que encara com muita alegria: resgatar não só boa parte da historia do Raimundos como também a sonoridade original da banda.
A fidelidade com as músicas e os arranjos também somam para que, dos fãs atuais aos mais antigos, a banda esteja ali, com a mesma identidade, energia e irreverência que elevou o Raimundos, ao status de uma das maiores e mais ousadas bandas do Brasil.
Outra boa nova é a entrada de Caio Cunha, baterista da cena underground de Brasília com as bandas Sapatos Bicolores, Deceivers e com o projeto Dr. Madeira ao lado de Digão. Sangue novo na área, mas competência para carregar nas baquetas o desafio. E de cara já conquistou os fãs veteranos. Missão difícil e muitas vezes impossível em uma banda com tantos anos de estrada.
Sobre a nova formação, Marquim comenta. “Nesses últimos, meses trabalhamos duro para consolidar a nova formação, com muitos ensaios. O Caio passou por uma verdadeira ‘lavagem cerebral’ para aprender todas as minúcias das músicas, respeitando a herança raimundística tão importante”.
Para o futuro, a banda não tem pressa. O momento agora é de consolidar a nova formação com muitos shows pelo Brasil e levar ao público o patrimônio de hits que a banda conquistou nos quase 20 anos de carreira. Depois o Raimundos colocará em prática uma surpresa aos fãs, mas eles não dão dicas a respeito, apenas deixam no ar que duas décadas de tantas histórias não podem passar em branco.
Fonte: Raimundos WFC
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26 janeiro 2014
Banda Raimundos
Formada em comunicação social, redatora chefe e responsável pela revisão do blog AeD Tecnologia, e também agregadora de biografias de bandas no blog Brasil Rock Down.